Este Blog destina-se a realização de atividades e interação entre os membros do curso Gestão de Políticas Públicas em Gênero e Raça - GPPGR, em especial os componentes do grupo 4, bem como todo aquele ou toda aquela que quiser expor suas ideias a respeito do tema "Igualdade de gênero, raça / etnia na educação formal".

terça-feira, 2 de agosto de 2011

Cor não pega. E racismo, pega?


Mário Magalhães 
Publicado na Folha de São Paulo

Há três quartos de século, a cada fevereiro renova-se a pergunta: e se a cor pegasse? Foi logo depois da Revolução de 30 que Lamartine Babo lançou "O Teu Cabelo Não Nega", co-autoria dos irmãos Valença. Como ensinam as professoras às crianças com direito a creche, cantam os versos: "Mas como a cor não pega, mulata/ Mulata eu quero o teu amor".
 Pela lógica da letra, a resposta é inescapável: se a cor pegasse, tchau, mulata, bye-bye, amor.
 Sem dúvida, marchinhas carnavalescas não foram feitas para consagrar a lógica. Bem como, se a maldição do politicamente correto se impusesse à folia, a festa correria o risco de acabar.
 "Cabeleira do Zezé" tem mesmo certa dose de homofobia. Porém não se compara à idéia implícita, do mal em si, na cor da mulata.
 Argumentam que era a cultura da época, sem conotação discriminatória. O racismo, contudo, é inegável. E, fosse para eternizar cabeças do passado, talvez valesse reintroduzir a escravidão e a chibata.
 Incomoda que se trate como natural o que não é. Dizer que só topa a moçoila porque cor não se transmite é barbaridade, não liberdade poética. Reconsiderar o que cantamos desde o berço não implica avalizar desvarios autoritários como cartilhas para sufocar a arte. Muito menos proibir a composição de Lamartine Babo e dos Irmãos Valença, criadores da marcha que, reinventada por Lalá, virou sucesso.
 O Brasil só teria a ganhar se, vez por outra, pensasse sobre aberrações como essa. Fizesse isso em relação a outras tantas expressões de segregação, quem sabe fosse menos racista. Da minha parte, recuso-me a perpetuar o "espírito d'antanho".
 Quando o bloco vai de "O Teu Cabelo Não Nega", ouço calado. É o tal protesto silencioso.


07/02/2007
imagem retirada do yahoo.com.br
Texto extraído do livro Viver e Aprender 1 - EJA - Editora Global - Ação Educativa.

Um comentário:

  1. Passamos um longo tempo da nossa vida a ouvir coisas assim, como as citações do texto, muito presente na música, nas piadas, nos contos, sempre encarando tudo isso como normal. Quando paramos para refletir sobre o racismo presente em frases do tipo até ingênuas, "dia de branco", "a coisa tá preta", "serviço de preto", etc., percebemos o quanto o racismo está arraigado na nossa cultura. O momento não deve ser para negação do racismo e sim para reflexão.

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